30 de dezembro de 2009

Mutismo


A época do Natal e da passagem de ano é uma daquelas em que existem barreiras invisíveis que devemos ultrapassar: a barreira invisível que determina o momento em que te deixas influenciar pelo espírito natalício e começas a ligar a toda a gente, a marcar jantares para todos os dias da semana; a barreira invisível que marca a passagem de um ano para o outro, cerimonialmente coroada com passas, chapanhe e gritos de alegria.

Mas as barreiras invisíveis por vezes são mais comuns e quotidianas do que estas. As barreiras invisíveis opõem-se à comunicação sincera entre as pessoas e são, no fundo, compostas pelo saldo do telemóvel, o horário dos transportes públicos e do trânsito, o 'é tarde, tenho que ir', o 'ausente' no MSN, a música aos berros da discoteca, o e-mail que tarda, o sinal mal interpretado.

Deixo 2009 com esta preocupação: a in-comunicação, a des-comunicação, a não-comunicação. Todas estas (mais ou menos pequenas) barreiras invisíveis, paredes de vidro, que se opõem à compreensão do Outro, à verdadeira atitude de aproximação e reciprocidade ao Outro, à curiosidade pelo Outro de forma não utilitária e verdadeiramente empática.

Todas estas reflexões pseudo-filosóficas podem sintetizar-se numa imagem: o cinema mudo. Vemo-nos mexer, andar, rir, chorar, abraçar mas o conteúdo verdadeiro de tudo isto surge na imagem rápida de 5 segundos que limita a um parágrafo tudo o que queremos dizer ou sentir ou transmitir ao Outro.

Todo este mutismo deixa-me dores de garganta.

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