14 de julho de 2008

Verão

O verão angustia-me.

É a mais pura verdade…

Não é pelo facto de apanhar trânsito para ir para a praia, nem por ter que levar com areia na cara quando um grupo de matulões decide jogar à bola perto da minha toalha. Também não são as criancinhas aos berros de “ó mãe dá-me 1 gelado!!!”, nem o frango assado da sempre presente e numerosa família típica do fim-de-semana.

Não fico angustiada, tão pouco, com a estupidez que grassa na televisão durante o Verão (há, certamente, muitos artistas musicais que só aparecem na caixa mágica durante os meses de Julho e Agosto), nem com a Volta a Portugal e o saudosismo dos mais velhos da altura em o país parava para a ver passar.

A minha angústia não provém do facto de ter que passar por adolescentes em biquini, muito mais vitaminadas e morenas do que eu, atirando-me à cara a força inelutável da lei da gravidade (que o outro só descobriu quando lhe caiu a maçã em cima mas que todas as mulheres já intuíam há muito).

Este desânimo também não se deve à perversidade das indústrias produtoras de gelado que, todos os anos no Verão, encontram novas formas de pôr um fim à dieta mais bem intencionada.

Não fico assim devido à ameaça cancerígena do sol fora dos horários recomendados, nem por ter que gastar mais tempo na eliminação de todos aqueles pelos e pelinhos que dão muito mais nas vistas sob a luz natural do sol de Agosto.

Não me sinto assim apenas porque as modas musicais do verão são decadentes e pirosas e porque, ainda assim, todos os que se encontram na pista de dança da discoteca mais badalada insistem em olhar para o tecto, apontando, enquanto berram “I wanna fly so high…”.

Também não se deve ao facto de algumas cidades ficarem, nestes meses de verão, desertas de pessoas e repletas de turistas – seres estranhos que comunicam numa língua diferente enquanto, nos seus trajes espalhafatosos e sempre desenquadrados, brandem furiosamente máquinas fotográficas ou de filmar, telemóveis e mapas, garrafas de água e leques.

Penso que a principal razão da minha angústia se deve ao facto de, precisamente, no verão não se poder estar triste. No verão todos querem ser felizes.

Longe do trabalho, longe de casa, sem horários, com calor e sol a rodos, com a possibilidade de beber álcool a qualquer hora do dia, sair todas as noites, dormir até tarde, possibilidade de fazer novas conquistas amorosas, não se tem autorização para estar triste. As virtualidades do enorme sorriso estampado na cara de todos provêm ‘deste solzinho’, vive-se o dia a dia e, principalmente, procuram-se esquecer todos os problemas que nos atormentam. O verão é uma panaceia para muitos males. Coloca-se a vida em suspenso e ‘aproveita-se o verão’.

Toda esta pressão para ser feliz põe-me assim… angustiada…