17 de dezembro de 2009

Diário do Absurdo

Nas brincadeiras com as amigas (e com alguns amigos mais tolerantes), ao discutir as relações pessoais e mais especificamente as relações amorosas, costumo ter a mesma resposta para a pergunta ‘mas afinal, porque é que precisamos dos homens??’.

Para mim, a verdadeira utilidade do homem (entenda-se, indivíduos do género masculino) limita-se a dois aspectos essenciais: carregar móveis e abrir frascos de conserva. Sempre pensei que, aparte estes pormenores (e valha-nos o desenvolvimento da indústria dos sex-toys), os homens não têm uma verdadeira utilidade. Podemos gostar deles, amá-los até, mas não se ama algo ou alguém por ser útil.

Portanto, face à questão ‘porque é que precisamos…’, só essas duas tarefas me ocorrem como podendo ser melhor desempenhadas por homens do que por mulheres. É difícil carregar um sofá ou mudar um armário de sítio. E os frascos, não raro, viram-se contra nós, com as suas tampas (hermeticamente seladas) resvalando nas mãos femininas lubrificadas por uma vasta gama de cremes hidratantes anti-envelhecimento e anti-manchas.

Ora, um destes dias, em casa, tive uma dessas (felizmente muito raras) mini-crises de mulher independente que às vezes se cansa de tanta independência e capacidade de desenrasque.

Dessas em que se contabiliza o tempo passado, em que se faz o balanço entre o que se quis e o que se alcançou, das boas e más surpresas amorosas que se teve ao longo dos anos, da inevitável questão que acaba por se formular mais ou menos desta forma: ‘mas afinal, quando é que aparece o gajo certo’ (sim, porque já nem sequer se imaginam príncipes em corcéis, ou coisa semelhante…). Tudo isto em pleno processo de preparação do jantar (para uma), entre tachos e facas, cebolas e alfaces, no espaço limitado e deprimente da cozinha (mostrem-me uma cozinha que não seja deprimente, uma só, desafio-vos!). E vai de estrear a garrafa do azeite.. que por sinal não abria... Apesar de não ser frasco de conserva.

Pensamento imediato (por cima dos pensamentos fruto da já mencionada mini-crise): ‘onde está um homem para me abrir isto?’.

Quanto reflecti na situação não pude deixar de pensar que alguém lá por cima (um daqueles seres que tem autorização para mexer nos fios do acaso e do absurdo) deve ser ou muito pérfido ou, ao contrário, ter muito sentido de humor.

Entre as várias opções possíveis (que incluíam: 1) procurar um vizinho, 2) deslizar para o chão em pranto, agarrada à teimosa garrafa de azeite; 3) desistir do jantar e mandar tudo à fava) não resisti: lancei uma gargalhada monumental, mirei ao alto com uma secreta piscadela de olhos e agarrei com toda a convicção a maior faca de cozinha que encontrei. Cortado o raio do selo do gargalo – vitória! – já nada se interpunha entre mim e uma garrafa de azeite aberta!!

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